Eduardo Carmello
Faz quatro anos que o Programa de Qualidade de Vida (PQV) entrou em ação na Givaudan, empresa que desenvolve fragrâncias e aromas para produtos de higiene e alimentação. As atividades começaram com uma pequena academia de ginástica e foram evoluindo para sessões de ioga, massagem bioenergética, coral, RPG. Hoje as ações contemplam também a comunidade do entorno. Os 218 funcionários da Givaudan praticamente adotaram a escola pública da região, que ganhou biblioteca, campanhas de saúde e até orientações para geração de renda.
O orgulho de trabalhar na empresa e a camaradagem entre os funcionários não são os únicos resultados do PQV. As faltas por motivo de doença baixaram 45%, diz a enfermeira Mona Chamma, orientadora do programa da Givaudan. Graças às orientações alimentares os problemas gástricos diminuíram pela metade, os exercícios físicos restringiram as visitas ao ortopedista e as campanhas antitabagismo reduziram para 12 os fumantes da empresa. O objetivo era fazer com que todos gerenciassem a própria saúde. Isso fez com que alcançássemos a satisfação pessoal, diz Mona.
As metas do PQV, contudo, devem visar muito mais que a felicidade do colaborador. Precisam estar ligadas ao planejamento estratrégico da corporação e beneficiar ambos os lados, explica Eduardo Carmello, da Entheusiasmos Consultoria para treinamento e desenvolvimento de empresas. Para que produza resultados, a empresa precisa fazer o PQV com o funcionário e não para ele, segundo Carmello. É assim que a corporação aumenta a força de trabalho saudável, melhora a produtividade, ganha com imagem institucional e reduz acidentes de trabalho, diz ele. Em contrapartida, terá um funcionário mais motivado, mais resistente ao estresse e com melhores relacionamentos.
Fazer com que o funcionário administre a própria saúde transformou-se em desafio no Grupo Algar, que comanda de Uberlândia (MG) cerca de duas dezenas de empresas dos segmentos de telecomunicações, publicidade e agronegócios espalhadas pelo Brasil. Para tanto, introduziu o PDI (Processo de Desenvolvimento Individual), que começou em junho último com rigorosas avaliações física, clínica e alimentar.
A partir dos diagnósticos, os funcionários receberam metas e deverão apresentar resultados dentro de um ano. Em junho de 2003, faremos uma nova avaliação, conta Cícero Penha, vice-presidente de RH da Algar. Quem não atingir as metas sofrerá penalidades, como a perda de 20% do bônus. A primeira etapa envolveu apenas os diretores, mas dentro de quatro meses deverá se estender a todos os 7 mil funcionários.
Funcionário que participa da elaboração do PQV tem mais motivação. A constatação é da Weg Motores, que consultou seus 600 colaboradores de Guarulhos (SP) para montar um programa com base na ginástica laboral e no gerenciamento de peso. No final do ano, contabilizamos quanto os funcionários perdem do peso extra e doamos a mesma quantidade em alimentos às comunidades do bairro, diz Leila Granjo, coordenadora do CCQ (Círculo de Qualidade de Vida) da Weg.
Dos funcionários consultados, porém, a Weg ouviu mais. Eles queriam mais treinamento e maior participação nas decisões. E foram atendidos. Nossas linhas de produção são muitas e muito específicas, diz Leila. Para não produzir sucata precisamos de trabalhadores motivados. A partir daí nasceu a gestão participativa aplicada ao chão de fábrica. São 29 grupos que se reúnem mensalmente para discutir segurança, ambiente de trabalho, melhoria da qualidade do produto.
Eles chegam até a discutir com os engenheiros, conta Leila. Já aplicaram na prática os conceitos de ergonomia que aprenderam e o trabalho passou a render mais. Quando eles têm informação de devolução de algum produto, estudam o problema e apresentam uma saída. Afinal, devolução implica retrabalho, envolve perda de tempo e reduz a participação nos resultados.
No ambiente de trabalho em que todos participam, conhecem seus papéis e sabem para onde estão indo, a possibilidade de neuroses diminui muito, diz a psicóloga Márcia Pinto, do Centro Psicológico de Controle do Stress, de São Paulo. Quando as empresas começam a perceber que investimento no pessoal não é custo, e o funcionário descobre que é valorizado, aí, sim, todos passam a ganhar, afirma Cecília Shibuya, presidente da ABQV (Associação Brasileira de Qualidade de Vida).
PQV, segundo Cecília, não envolve muitos gastos, embora seja programa de muitos resultados. É fundamental que tenha o envolvimento direto do presidente da companhia e que não seja feito apenas por modismo, porque corre o risco de não ter consistência , avisa. E também precisa um bom planejamento, para resistir aos tempos de crise.
Detectar necessidades e oferecer soluções são a base do programa Viva Vida, da Dow Química. Os 2.400 funcionários das 13 unidades do Brasil contam há dez anos com tratamento preventivo que engloba alimentação dirigida, atividade física, abandono do cigarro e equilíbrio entre corpo e mente. Os funcionários trabalham mais felizes, produzem mais e se sentem importantes para a companhia, diz Maria Lúcia Bechara, líder de saúde ocupacional da Dow.
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