APRENDIZES DO FUTURO: COMO INCORPORAR CONHECIMENTO E TRANSFORMAR REALIDADES

line break Eduardo Carmello



Eduardo Carmello

www.entheusiasmos.com.br

eduardo@entheusiasmos.com.br

23/05/2011

Para suportar as intensas mudanças nos próximos 10 anos, Aprendizes do Futuro compreendem que é necessário criar estratégias de capacitação onde a atenção esteja focada não no ensinar, mas no fomento da aprendizagem autodirigida, que modifica o desempenho e pode transformar realidades.

Num futuro próximo, educadores e gestores precisam saber criar situações e ambientes em que os aprendizes possam ser originais e sintam um alto nível de gratificação pessoal (sucesso psicológico, afirmação, sensação de ser eficaz) e profissional. Mais do que transmitir conteúdos ou construir exames, precisam ajudar os aprendizes a desenvolver seus talentos e saber empreender, pois estas serão atividades educacionais fundamentais para que o mesmo saiba agir e criar “seu próprio mundo” sustentável.

         Aprendizes do Futuro estão criando uma nova forma de “ser” e “conviver”, e assim, criando um novo mundo. Este é uma ótima oportunidade para escolas, organizações, educadores e líderes compreender como os “Aprendizes do Futuro” estão desenvolvendo estratégias para “Ganhar a Vida”.

Quem são os Aprendizes do Futuro:

1 – São crianças, adolescentes e adultos que se sentem incomodados, angustiados e frustrados por receber um conjunto muito grande de informações irrelevantes, desinteressantes, que não acrescentam em nada na conquista de seus objetivos ou nos desafios reais que a vida lhe proporciona.

Os aprendizes do Futuro “crianças”, que ainda não têm capacidade de argumentação convincente, se expressam com irritação, incômodo ou desafeto com a escola, com professores, pais e muitas vezes, com a vida.

2- Aprendizes do Futuro que são “adolescentes e adultos” estão se virando melhor: acabam por criar, sozinhos ou em grupos, estratégias de aprendizagem bastante eficazes que garantam adquirir, incorporar e manifestar conhecimentos relevantes, mantendo-os atualizados e melhor preparados para lidar com as exigências da vida, agora e no Futuro.

         Não esqueço-me do dia em que fui convidado a palestrar para uma das empresas mais admiradas do País, que comemorava 1 ano da sua Universidade Corporativa. Depois que expliquei sobre a importância da criação e incorporação do conhecimento relevante, um profissional que havia feito um curso de liderança pela empresa disse: “Eu não compreendo porque 80% do conteúdo de meu curso não utilizo no meu dia-a-dia. Os conhecimentos mais importantes eu não consigo obter de maneira objetiva e concreta”.

Muito do conteúdo do programa não o ajuda a lidar de maneira efetiva com os problemas e desejos de sua realidade.

         Aprendizes do Futuro compreendem que aprender é modificar-se. Os desafios reais da vida oferecem grandes oportunidades para que eles se desenvolvam e aprendam a transformar conhecimento em riqueza econômica e social. Perceberam sozinhos que isso não se faz somente com saber declaratório (aquisição e memorização de dados, eventos e fatos). Acontece com saber procedural (aquisição de habilidades motoras, sensitivas e intelectuais que o levem a agir eficaz e corretamente).

Percebemos que esses “seres” vão aprendendo rápida e consistentemente à medida que fazem tarefas com alto interesse e com objetivos que compreenderam como importantes para o seu desenvolvimento e ou para a realização de um projeto de sua necessidade ou desejo.

Como aprendem os aprendizes do Futuro

         Quando estudamos Vygotsky (1978) e seu conceito de auto-regulação, compreendemos que a aprendizagem de conhecimentos e de habilidades ocorre num contexto social onde um ser com maior aptidão guia ou orienta a atividade de um com menor aptidão.

         O professor Ikujiro Nonaka, considerado um dos fundadores da Gestão do Conhecimento, implementou o conceito “Ba” como um grande diferencial na Criação do Conhecimento nas Organizações. “Ba” pode ser traduzido como um contexto compartilhado ou contexto capacitante. Esse ambiente estimula, favorece e incentiva os comportamentos “criadores” de conhecimento relevante para o talento e para a empresa. A construção de ambientes capacitantes é tão importante quanto a Comunicação da Estratégia e as ferramentas da Gestão do Conhecimento.

         Tanto Vygotsky quanto Nonaka, nos demonstram que a aprendizagem torna-se mais efetiva quando há um legítimo interesse por parte do aprendiz e quando os conteúdos são utilizados para a melhora do desempenho do aprendiz, a objetivos práticos que o aprendiz está interessado em alcançar.

         O saber procedural se destaca pois, à medida que ganha o domínio das atividades, interioriza os procedimentos e os conhecimentos envolvidos, manifestando cada vez mais e melhor sua autoregulação, o domínio das tarefas e habilidades envolvidas. Os aprendizes do Futuro, ao aprimorar seu saber procedural, ganham juntos a autoestima e a autoeficácia necessária para saber posicionar-se na Vida.

Do que os Aprendizes do Futuro estão se distanciando:

Muitas escolas, professores e programas de treinamento nas Organizações hoje já estão desinteressantes, pois utilizam 70% do seu tempo trabalhando com conteúdos que não tem relevância nenhuma para o aumento de recursos do aprendiz. Não conseguem ajudá-lo a lidar de maneira efetiva com os problemas e desejos de sua realidade.

1 – Foco no conteúdo e não no desempenho: 

É muito comum o aprendiz passar por um seminário de 8,16 ou 24 horas sobre Liderança recebendo conteúdos, conceitos e atividades que não necessariamente o ajudarão e performar melhor no seu dia-a-dia. Dave Ulrich, um dos maiores influenciadores da Gestão de RH demonstra essa dificuldade: “Nos últimos 20 anos venho defendendo que os profissionais de RH assumam papéis estratégicos nas empresas, mas eles sabotam esse esforço ao investir mais em atividades do que em resultados.” O próprio Peter Senge nos demonstrou que apenas 5 a 10% dos conteúdos brilhantes que adquirimos nos seminários são colocados em prática e transforma-se em resultados valiosos.

2 – Foco maior na disseminação e pouco estímulo para a criação ou incorporação do conhecimento:

Grande parte do Conhecimento Estratégico é perdido pois, mesmo com as ferramentas e canais de disseminação do Conhecimento, não há plano de ação nem acompanhamento desses aprendizes para que eles consigam aprender, aplicar e gerar resultados de performance superior ao que manifestavam anteriormente. Há uma granda energia gasta em disseminação e pouquíssima em fazer incorporar os conhecimentos relevantes no dia-a-dia da organização.

3 – Instrutores que jogam dama e não xadrez. 

É frequente a observação de que um conjunto de conteúdo é desenvolvido para todos, de forma igual (semelhante ao jogo de dama, todas as peças são iguais). Não há distinção entre quem sabe menos ou mais. De quem tem baixa ou alta perfomance. De quem já sabe ou não sabe aquele conteúdo. De quem realmente precisa ou não daquela quantidade de informação. A personalização, a singularidade, o conhecimento prévio dos conhecimentos e do nível de performance (Xadrex) é fundamental para a construção de uma capacitação estratégica de alta qualidade.

Aprendizes do Futuro preferem o aprendizado que lhes ajude a FAZER ALGO MELHOR do que a informação que lhe faz parecer mais inteligente.

Condições capacitantes que possam ajudar o Aprendiz do Futuro

Gostaria de compartilhar alguns princípios que estamos aprendendo e aplicando em Instituições de Ensino e Organizações para acelerar o processo de aprendizagem de equipes e talentos em contextos de transformação:

1 – Busque construir estratégias para que o aprendiz consiga se apropriar, não de informação, mas de conhecimentos que o ajudem a ganhar domínio das atividades e tarefas necessárias para a realização de seus objetivos mais concretos e relevantes.

2 – Para aprendizes do Futuro, não é a informação propriamente dita, mas o apoio emocional e procedural que gera o domínio dos processos e atividades necessárias para se cumprir objetivos por ele mesmo desenhado. Ele não está esperando por um professor (que professa), mas por um agente de processos que tem clareza dos resultados e processos envolvidos. Que sabe diagnosticar os objetivos e o nível de aprendizagem que a pessoa se encontra. Que sabe acompanhar e subsidiar, localizando competências e tarefas no processo, indicando conquistas e desafios.

3 – Aprendizes do Futuro estão interessados em descobrir suas potências e transformá-las em valor. Ajude-os a amplificar duas ou três de suas inteligências, transformando seus talentos em algo produtivo e desejável para sua comunidade e para o mundo.

4 – Ajude o aprendiz a conhecer melhor como ele se comporta diante da Realidade. Ele tem chances de aprender melhor “fazendo” o que precisa ser feito. Ajude-o a compreender como as coisas funcionam, como decifrar processos. Demonstre casos e experiências reais do que precisa ser aprendido.

5 – Ajude-o a direcionar seu próprio aprendizado com as 7 perguntas relevantes:

a) O que estou realmente precisando aprender?

b) Quem são os experts?

c) O que eles consideram crucialmente importante aprender para que você seja proficiente?

d) Existe algum vídeo, artigo, livro, podcasting que possa ajudar a complementar minha aprendizagem?

e) Quais são as três palavras-chave para procurar na internet?

f) Depois das perguntas anteriores, sei o que é relevante saber e como agir?

a)  Como posso construir um plano de ação e aplicá-lo no meu dia-a-dia?

6 – Incentive-o a obter contato com ambientes de alta performance onde possa “aprender fazendo com os melhores”. Dê oportunidade de observar e interagir com profissionais que fazem muito bem o que precisa ser feito.

Aprendizes do Futuro procuram entender as razões e os caminhos pelas quais  seus talentos podem e devem ser manifestados, tornando-se seres de realização.

Para o Filósofo Espinosa, a Liberdade é ativa quando consegue compreender a ordem e a conexão necessária do Real, a produção do real e a inserção do homem nessa produção. A paixão guiada pela consciência que temos de alcançar a plenitude de nosso ser através da compreensão de nós mesmos e da manifestação de nosso propósito, de nossa causa ativa.




Comentários


2 respostas para “APRENDIZES DO FUTURO: COMO INCORPORAR CONHECIMENTO E TRANSFORMAR REALIDADES”

  1. Eduardo disse:

    Muito interessante, Edu. Gosto muito da parte onde menciona RH sendo entrategicos nas empresas e também de como devemos criar condições para que o aprendiz “aprenda fazendo”. Esse segundo ponto, na minha opinião, é muito relevante pois acredito muito que APRENDER= ESTUDAR + ACOMPANHAR + FAZER. Por fim gostei muito das perguntas direcionadoras para o talento perceber de forma consciente como está evoluindo, gerando valor.

  2. Lay Cordeiro disse:

    Obrigada por compartilhar um conteúdo tão incrível e relevante. Como sempre vc nos faz refletir sobre questões cotidianas das quais nos desperta a vontade mudar comportamento e mindset, pra mim foi extremamente importante esse artigo, ainda mantenho o modelo antigo inserido no meu doa a dia e percebo o quando preciso buscar conhecimento sobre essa forma de aprendizagem esse olhar mais estratégico. Gratidão querido Eduardo. Abç.

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